domingo, 8 de abril de 2007

Observador da vida

Observar a vida e não vivê-la.
Parece que estou fadado a isso. Não que eu prefiria estar vivendo mas, como ser humano, carrego afeto por algumas (poucas) pessoas. O problema do afeto é que deve ser praticado, seja numa conversa, seja num aperto de mão, seja num abraço ou num beijo; se não é praticado, não tem por onde sair. Não tendo por onde sair, o indivíduo enlouquece. Sim, enlouquece; esta é a palavra correta dado o contexto. Só que parece tão mais interessante - ou tão mais confortável - ser um espectador da vida do que vivê-la. Perco-me nas minhas teorias e pensamentos sobre as pessoas, estudo explicações, penso em possíveis causas, tento entender. Entender. Essa é a palavra. Gosto tanto de tentar entender - talvez goste até mais do processo de tentar do que do entender em si - que acabo deixando o viver de lado. É irônico: para se entender a vida é preciso não vivê-la, atrofiar seus músculos com exceção do cérebro, bitolando-se em alguns livros e pensamentos e esquecendo dos pequenos prazeres que a vida pode nos proporcionar, como apreciar o gosto de uma boa comida ou sentir o vento no rosto num dia ensolarado. Às vezes acho que é isso o que me falta, uma dose de pequenas coisas da vida. Enquanto eu penso sobre os problemas e crio teorias sobre assuntos que abrangem todas as pessoas, muitas dessas pessoas estão lá fora vivendo.

Mas, pensando bem, não gostaria de estar no lugar delas. Não gostaria de estar vivendo essa vida de superficialidade e hipocrisia, mentindo para si e mentindo para os outros, fingindo sentir o que não sente, forçando um sorriso no rosto só para ser mais conveniente, fingindo estar gostando dessa vida objetiva, se acomodando com a simplicidade, viver da mesma rotina dia após dia, ano apos ano, eliminando totalmente o ócio de sua vida - para isso existem as ideologias que excluem o vagabundo, enquanto creio que todos temos direito ao ócio. Argh!, apesar de me parecer nojento esse estilo de vida, parece que todos nós estamos destinados a isso, uma vez que para sobreviver é preciso se adaptar e aceitar a simplicidade, aceitar o comum, o normal.

Voltando ao "pensar e não viver". Gosto muito de ser um pensador. Mas me questiono agora: será que eu nasci pensador? Não me recordo muito do período de minha infância, mas alguns fatores que não são de meu controle e dificultam minha vivência sempre estiveram presentes, como a dificuldade com sentimentos e a ansiedade social - que me pergunto se não chega a ser uma fobia. Desde pequeno tive problemas com relacionamentos e sociabilidade em geral. Talvez eu tenha virado um pensador então. E de forma imposta - se é que foi o que aconteceu.
De qualquer forma, hoje eu prefiro o mundo teórico do que o prático, seja por vocação ou seja por falta de opção. Mas talvez eu devesse me dedicar um pouco à vivência, uma vez que preciso
praticar alguns afetos pelas poucas pessoas - conforme disse no início - de que gosto.

Mas que seria bom ter só que pensar e não viver, ah!, se seria.